Você já se imaginou confinado num pequeno espaço, com pessoas desconhecidas, num lugar sem possibilidade de escape? Hummm…já viu esse filme (esse programa)? Não, não é o Big Brother, é uma operação de mergulho live aboard, quédizê, ficamos embarcados direto, sem direito à terra firme.
Só que ninguém foi eliminado ou competiu com os outros brothers; pelo contrário, o ambiente foi de camaradagem e bom humor 24 horas por dia. Poizé, eu me meti nessa aventura aquática, e só posso dizer que gostei muito!
Foram quatro dias no mar do sul da Bahia: saindo de Caravelas são quatro horas de navegação. Durante o dia ficamos submersos, à noite, ancorados perto das ilhas.
A operação foi montada pela Calypso Brasil, e executada pela empresa Horizonte Aberto. O catamarã é su-per-con-for-tá-vel, dentro dos limites de conforto de um barquinho em alto mar.
A tripulação não poderia ser mais gentil, montavam todo o equipamento pelo menos duas vezes por dia (três, com os noturnos), davam toda a assistência…até um forró marítimo eles improvisaram para animar as scubas pés-de-valsa (ou de baião?)
O cozinheiro Adílson, foi um personagem à parte: afora o talento para se virar naquela nanocozinha flutuante sem fazer bagunça nem sujeira, tirava da cartola (da caçarola) moquecas, peixes, filés mignons saladas, lasanhas e até pavês, superdisputados. Acabou voltando conosco pro Rio (acho que foi um sequestro…)
As equipes se dividiram entre os Alfa-divers, capitaneados pela Marise 🙂 sob orientação do dive master Mauro L. Reis…
…e as Luluzinhas 😆 quatro aguerridas iniciantes (euzinha incluída), dispostas a escanear os mares de Abrolhos.
Nós fomos paparicadas guiadas pelo dive master Fábio Negrão, que participa do Projeto Coral Vivo, da Petrobrás.
Aliás, todo mundo que trabalha em Abrolhos acaba envolvido em algum projeto ecológico devido ao caráter fortemente preservacionista do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, que foi o primeiro do Brasil, criado em 1983, abrindo caminho para o Parque Marinho de Fernando de Noronha e outros.
O desembarque é proibido em quase todas as ilhas, com exceção da Ilha Siriba (o ninhal dos Atobás) e da Santa Bárbara, restrita ao pessoal da Marinha e aos funcionários do Parque.
A Siriba é um santuário de reprodução dos Atobás, pássaros que parecem feitos de pelúcia e lavados em Ariel, quando pequenos.
Fizemos ao todo oito mergulhos, dois deles noturnos (minha estréia na soirée-sub), quando as cores estão mais impressionantes
e três naufrágios, Guadiana, Rosalinda (ainda com garrafas de cerveja) e Santa Catharina. A visibilidade não estava muito boa (uns 8 metros), mas deu pra sentir a emoção de brincar num navio fantasma e descobrir algum tesouro.
As estruturas mais impressionantes são os chapeirões, verdadeiras catedrais de coral que crescem até 30 metros de altura a partir do fundo.
Nessas catedrais vivem corais de cores indescritíveis, além de peixes criados pelo photoshop divino, de tantas cores que possuem.
A fauna do arquipélago não é muito numerosa, mas é muito diversificada, ou seja, poucos indivíduos, mas inúmeras espécies.
Falando em espécies, a mais buscada foi a do mero, que o Mauro pesquisa para o Projeto Meros do Brasil. Reza a lenda que um deles, de uns duzentos quilos, habita um dos naufrágios. Ele espera os mergulhadores passarem pra espia-los mansamente de trás, mas ninguém deu de cara com o doce monstrinho.
A rotina de mergulhos é muito cansativa: o horário de acordar é o do sol, pois o astro-rei entra pelas escotilhas da cabine antes das seis da matina. Até as oito já está todo mundo dentro d’agua, de barriguinha cheia. Ao meio dia, almoço, com uma siesta em seguida. Duas da tarde mais um mergulho, até o sol baixar e no comecinho da noite o mais espetacular de todos.
Apesar de produzir muita endorfina, às vezes tínhamos que relaxar um pouco
Afinal, é duro viver no mar…
Mais fotos aqui.