Na minha opinião, Gabriel Garcia Marquez é o melhor escritor do mundo. Minha opinião. Isto posto, deixe-me começar a falar de Cartagena: lá se passam muitos dos melhores romances do melhor escritor do mundo. Ou seja, antes de descer do avião eu já estava perdidamente apaixonada por essa cidade cercada por uma formidável muralha, onde vive encarcerada a poesia, como se lá dentro o tempo não passasse e a cidade fosse indiferente à passagem dos carros e desse mesmo tempo lá de fora.
Fica difícil pensar no século XXI, com aquelas casinhas coloniais e charretes cruzando as ruas estreitas.
Faz um calorzinho caribenho, mas tem uma brisa que cria uma atmosfera inebriante, morena, musical, dançante, histórica…gostosa. Como um cenário de livro do Gabo.
Assim como Paraty e Tiradentes, Cartagena descobriu um forte apelo turístico dentro de suas muralhas, e de lá somos transportados a outro tempo, outra história, quase uma fantasia.
É isso, é uma ilha de fantasia. Do lado de fora a cidade segue crescendo, tem vida própria, mas lá dentro tudo fica diferente. Quase dá pra esbarrar em Florentino Ariza e Fermina Daza no Portal dos Dulces.
E pelos corredores do Convento de Santa Clara (atual moderníssimo Hotel Sofitel) pode-se sentir o roçar dos cabelos de Serva Maria, que se apaixonou pelo padre Cayetano Delaura.
Voltando ao mundo real, a melhor coisa da cidade é se perder nas ruas cheias de gente colorida e casas cheias de flores.
A pé podemos descobrir pequenas jóias como ameixas frescas no camelô, uma livraria simpática, a Ábaco,
e sabores locais exóticos.
Nessas andanças apaixonadas fomos atropeladas por um legítimo museu de esmeraldas (calle Don Sancho 36-75), onde o dono encravou um pedaço de rocha cheio de pepitas de esmeraldas, para simular uma mina verdadeira, além de selecionar algumas pedras lapidadas e maravilhosas para exibição (mulheres, não cheguem perto de lá com o cartão de crédito na bolsa, ou a viagem vai ficar caríssima)
Os cartagenenses a-do-ram casar, é um dos melhores programas locais. E o curioso é que todo mundo vai de branco: a noiva, o noivo, os padrinhos, os convidados, a charrete…
Quando consegui me libertar do transe inicial da chegada, fui visitar Iemanjá.
Traduzindo pro turistês: fui fazer um passeio de barco às Ilhas del Rosário, um arquipélago a duas horas de navegação de Cartagena, onde pode-se assistir ao show do Oceanário, ou mergulhar o snorkel na água e nadar com os peixinhos…afinal estamos no Caribe, né? Sugiro que quem gosta de água transparente e muita vida marinha, ignore o tal show e nade com as atrações.
O mesmo passeio (leva o dia inteiro) desembarca na Playa Blanca para almoço. FUJA! Corra, Lola, corra. A comida é ruim demais, parece que somos uma tropa do exército recebendo o rancho. Devia ter levado um sanduba e ficado na praia (maravilhosa) pegando sol. É verdade que tem um batalhão de vendedores ambulantes querendo te empurrar qualquer coisinha, mas basta uma palavra mais enérgica que eles desistem.
O barco já está equipado com tecnologia baiana de entretenimento (axé music marítima)
A cidade amuralhada é tão pequenina que só dá vontade de andar a pé. Mesmo na night, o que mais se vê é o povo na infantaria e depois se acabando de dançar salsa no complexo bailante-musical do Portal de los Dulces, formado pelo Donde Fidel (mais popular) e o Tu Candela (mais chique)
Ou mesmo tomando só um chopinho na Plaza Santo Domingo
Meu boteco preferido nessa praça ficou sendo o Paco’s, pela boa música (ao vivo) e pela cerveja gelada.
Mas não posso desprezar o Crepes & Waffles, no qual eu fiquei viciada. Não é um restaurante típico ou pitoresco, mas eu enlouquecia com os crepes e toda hora voltava lá. Baideuêi, essa rede de creperias está presente em toda a Colômbia, e suas funcionárias são todas mães chefes de família. Muito simpático.
O Lerê histórico mais importante é o Castillo de San Felipe, uma fortaleza cheia de túneis e labirintos pra criança nenhuma botar defeito
Nessa viagem tive a feliz surpresa de encontrar o Arthur, do Agora Vai, e por poucos dias não fizemos a mesma viagem. A descrição dele da cidade de Cartagena é muito mais real, menos romanceada e muito engraçada, uma delícia de ler.
Pra não dizer que não falei de coisas práticas, vou falar do hotel que nós nos hospedamos, o San Diego
Dentro da muralha existem poucas opções de hospedagem: ou são os hotéis de luxo, como o Sofitel Santa Clara ou o El Marqués, ou são albergues bem chinfrins. Mas o nosso conseguia ser simplinho E honesto, além de muito bem localizado, pertinho do supermercado Exito, onde até fizemos câmbio! Sem falar na atenção toda especial do staff do hotel e ainda estavamos a 5 minutos de caminhada (ou a 5.000 pesos de táxi) de qualquer lugar da cidade. Até mesmo da praia de Boca Grande…
A única coisa que eu não gostei em Cartagena. E olha que eu a-do-ro praia. Pode ter sido a combinação de prédios gigantescos com areia preta e mar marronzinho
Ou ainda a chuva torrencial que caiu nesse dia. Eu procurava o MEU mar do Caribe, com aquelas cores estonteantes e via a praia da Ilha do Governador. Fiquei a ver navios…
Mas isso não tirou meu ânimo. Continuo apaixonada pela cidade. Acho que Cartagena deveria ser o hub do Caribe. Seria sensacional TER QUE passar por lá pra visitar aqueles mares. Com certeza eu volto lá, quem sabe pra tomar uma cerveja com o Gabo? Sonhar não custa nada.
Mais Cartagena aqui.