“De Alto Cedro voy para Macaney,
llego a Cueto voy para Mayarí…”
(El Chan Chan – Compay Segundo)
Nunca consegui entender o que dizia a música, até pedir a uma cubanita pra escrever as palavras e descobrir que eram pequenos vilarejos do oriente cubano.
Eu não tinha me dado conta de que queria TANTO ir pra Cuba até chegar lá. Eu explico: eu costumo guardar reportagens turísticas que me interessam numa pastinha de papelão “Planos para o Futuro”. Poizé, de repente tudo deu certo, a época, as reservas, a disponibilidade, a meteorologia, o tutu…e lá fui eu prá Jóia do Caribe, com meus alfarrábios a tiracolo. Só quando eu cheguei lá é que eu vi como eram antigas as matérias (Tinha coisas de 1997!). Claro que algumas dicas não serviam pra mais nada, mas serviram pra orientar meus planos de passeios. No instante em que me vi em solo cubano me dei conta da grandeza do sonho que eu estava realizando. Tudo me parecia estranhamente diferente e assombrosamente igual ao Brasil. Depois do Jet Lag e do cansaço da noite sem dormir cheguei a pensar que era um sonho.
O que mais me impressionou foi a semelhança das cores de lá com as cores daqui. Cores do céu, das pessoas, das roupas, das ruas, das árvores…
Eu tava doida pra ver a Habana Vieja, os predinhos antigos, os casarões, os carrões e o povo nas ruas. Não me decepcionei, mas me surpreendi com a semelhança com o capitalismo.
Habana Vieja está sendo febrilmente reformada para atender à demanda da novíssima industria nacional, o turismo. Isso quer dizer, vai ficar parecendo um pouquinho com a Espanha, o que dá a cor local são os cubanos, o que torna a mistura mais interessante ainda.
Eu fiquei com uma dúvida: por que Habana Vieja ficou tão abandonada? Qual foi o momento em que houve o êxodo de lá? Eu imagino que o momento da ocupação dos casarões foi durante a revolução, mas pela arquitetura dos imóveis, que se manteve inalterada na região, me parece que o centro histórico perdeu a importância antes do século XX ou ainda, bem no comecinho dele. Traçando um paralelo inevitável entre Bahia e Cuba, posso lembrar de Belmonte, no sul da Bahia, que foi uma cidade poderosa na época do cacau, mas depois da tal “vassoura de bruxa”, virou uma cidade fantasma.
Voltando um pouco mais na história, descobrimos que Havana é chamada “a chave das Américas” (tem até uma chavinha no brasão da cidade), devido à sua posição estratégica no Caribe. Por causa dessa posição estratégica, foi construída lá pelos espanhóis a maior fortaleza do continente americano, com paredes enoooormes.
(essa primeira foto é do Palacio de Los Reyes, com a tal Fortaleza del Morro ao fundo)
Aliás, um dos fatos mais prosaicos em Havana é o “cañonazo”, um ritual militar de tiro de canhão que remonta ao séc. XVII e se mantém até hoje, tiro pelo qual todo mundo acerta seus relógios às 21:00 hs pontualmente, chova, faça sol ou furacão. Na noite que eu fui (02/05/07) tinha uma lua cheia perfeita, mas (mea culpa, mea máxima culpa) minha câmera estava sem bateria e eu não pude trazer imagens para compartilhar. Posso garantir que o programa é um dos melhores, pois os sentinelas se vestem a caráter e encenam a coisa toda pra turistada ao ar livre.
Outra coisa encantadora em Havana, além da arquitetura é a música: TODO LUGAR TEM MÚSICA!!!! em todos os bares, restaurantes, hotéis, quiosques de praia e biroscas tem música! E boa música! Ao vivo! E não é como aqui em Copacabana com um pandeirinho, um tantan e um tamborim…NÃO! É com contrabaixo, guitarras e bongô (com ou sem “tumbadora” ou tantan-gigante). O que Wim Wenders fez pela auto estima do povo cubano através da música, nem Che Guevara teria conseguido, se ele também cantasse. O filme Buena Vista Social Clube recolocou Cuba nas paradas de sucesso globais, das quais foi retirada na época que os americanos saíram de lá. Cuba tem um talento musical QUASE igual ao do Brasil. Além da salsa (que é um ritmo americano), ouve-se em toda parte o “son”, que é a base do tal filme, que também projetou os velhinhos Compay Segundo e Ibrahim Ferrer mundialmente. É uma música envolvente, sensual e alegre. Parece um filhote contentinho do bolero. Impossível não gostar.
Tags: canhonazo, casarões, Cuba, habana vieja, havana, musica, son, tumbadora
junho 5, 2007 às 11:48 pm |
Lindo! Cê vai continuar, né? Tô linkando…
junho 6, 2007 às 12:42 am |
Meilin, tá mesmo 10. Nunca fui a Cuba, mas estive na costa caribenha da Colômbia e, em Cartagena, a música também domina as ruas. E, como você diz, não é só um “pandeirinho”. Acho que a música cubana foi tão forte que envolveu todo o Caribe (e, fortemente, também o Brasil).
junho 6, 2007 às 1:38 am |
Meilin, Agora entendo sua paixão por Cuba de onde você falou na conVNVenção do CCBB !!! Vai acabar morando lá 🙂
junho 6, 2007 às 3:51 am |
Seja bem vinda ao mundo dos blogueiros…Isto serve como estimulo pra um dia, fazer o meu…
Parabens!!!!!
junho 6, 2007 às 5:41 am |
Parabéns, Meilin! Não dá pra não ter vontade de ir a Cuba com um post colorido e musical desses 🙂
junho 6, 2007 às 11:41 am |
Estive em Cuba em Julho de 2005 e adorei. Vale a pena a viagem, apesar dos preços exorbitantes cobrados na ilha e a falta de uma boa culinária. Eles são extremamente simples no comer e no beber. A música e o jeito alegre do cubano faz a diferença. Na época Havana estava caindo aos pedaços. o abadono de Havana Vieja nos fazia chorar de tristeza. Somente uma ou outra reforma. Apesar do regime policialesco imposto por Fidel os habitantes são alegres por natureza. É lá que encontramos algumas das melhores coisas do mundo profano: Bebida, charuto e música de qualidade.
junho 6, 2007 às 12:43 pm |
Tá mesmo MUITO bacana. As fotos, a sua visão, o texto e a apresentação. Estou freguês! PARABÉNS!
junho 6, 2007 às 1:50 pm |
Meilin, tá incrível! Nunca fui a Cuba, mas fiquei com mais vontade ainda agora! O texto está fofíssimo e as fotos, um deslumbre. Parabéns!
junho 6, 2007 às 3:07 pm |
Oi, Meilin!
Sou amiga da Carlota! Seu blog tá lindo! Parabéns!
Bjão!
junho 6, 2007 às 3:07 pm |
Meilin,
Parabéns pela matéria! E apenas um comentário bobo político-econômico: quando estive por Cuba, há uns 08 anos atrás, eles estavam no auge da carestia por conta da falência da União Soviética, que parou de ajudar Fidel. Na ocasião, fui informado, que Havana Vieja estava sendo reerguida por conta de verbas da Unesco, por ser um patrimônio mundial. Havia só subempregos, faltava dinheiro, e o governo ditatorial e fechado não estava preparado para os novos tempos. Achei, como vc, um povo muito parecido com o nosso. A única coisa que não sai da minha cabeça, é que nesta visita, pude confirmar que nehuma ditadura é boa: nem de direita, nem de esquerda. E muito menos achar que os fins justificam os meios. Uma pena que no meio de tanta política desajeitada, um povo tão feliz , alegre e colorido, fica espremido desta forma. Boas viagens.abçs.Marcelo
junho 6, 2007 às 4:34 pm |
Marcelo, concordo integralmente com você. A situação dos “alumbrones” (os raros momentos em que a luz funcionava num dia) já mudou muito, mas é uma pena que tantos recursos humanos tão bem treinados estejam absorvidos pelo turismo só por um punhados de “dolinhas” de gorjeta.
junho 6, 2007 às 11:14 pm |
Fantastico!
Parabens!
em breve estaremos indo tb…
junho 6, 2007 às 11:24 pm |
Muito legal!
junho 7, 2007 às 12:55 am |
Aí, hermanita
como sempre, você ARRASOU! Narrada através desses olhinhos de artista, a viagem ficou ainda mais fascinante.
Continue produzindo suas pérolas.
Bjk
junho 7, 2007 às 8:23 am |
Olá,
Apesar de muitos “ses” e “mas” (as incongruências políticas e a desenvergonhada e ostensiva caça ao presente (oferta) e ao dólar irritaram-me um pouco) também adorei as minhas férias em Cuba – sete dias para passear, outros para namorar e outos lazeres apetitosos na zona das praias.
E a música!… Também or isso gostei tanto do Brasil!
Continuação de boas férias. Beijinhos
junho 7, 2007 às 8:31 pm |
Cuba está na minha lista a tempos!!!
Assim que der confiro tudo isso ao vivo.
Adorei!!
Bjo!
Marcio
junho 12, 2007 às 3:46 pm |
Puxa, Mei, impossível não se ligar, não se contagiar, não se apaixonar! Já conhecia seus dotes de sensibilidade, observação, artísticos e literários, mas acho que você desabrochou de vez neste espaço! P-a-r-a-b-é-n-s!!!
junho 19, 2007 às 5:27 pm |
Meilin…quando se fala de Havana e sua degradação, não posso me esquecer do Pedro Juan Gutierrez. Exatamente como seus livros, Havana me parece assim: triste e decadente, mas irresistível e totalmente sedutora.
junho 19, 2007 às 7:56 pm |
É exatamente isso, Emília! É decadente sim, pero lindíssima!!!
agosto 4, 2007 às 10:10 pm |
[…] Se não viram, corram ver: a Meilin começou a blogar sua viagem a Cuba, no Pergaminho Eletrônico. […]
setembro 5, 2007 às 1:31 pm |
Olá. Estou planejando minha viagem para Cuba e achei seu blog.
Gostaria de fugir do circuito turistico, então, gostaria de indicações de lugares e casas de familia para ficar.
Beijos e boa viagem
Mariana
outubro 28, 2007 às 9:58 pm |
Oi, tudo bem?
Gostaria de visitar Cuba, mas assim como a Mariana, gostaria de sair do circuíto turístico e andar por “todo” o país, para conhecer a verdadeira Cuba, não esta a rede globo de vez em quando quer nos enfiar guela a baixo.
Bom, se puder, gostaria que me desse umas dicas e me falasse alguns lugares onde poderia me hospedar, etc.
aguardo sua resposta
bjos
meu e-mail é este aqui
bernardo.mn@uol.com.br
outubro 30, 2007 às 8:25 pm |
Oi, Bernardo, é uma ótima idéia, porque a gente descobre o sentido de “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa” 🙄 pois nem tudo é a maravilha apregoada pelo governo cubano, nem é uma desgraceira total de gente miserável e infeliz como querem fazer crer as nossas “zelites”. Sugiro que você conheça Santa Clara e Trinidad, que eu não conheci, que você vá às plantações de cana e faça a loooooonga viagem até Santiago de Cuba, parando as cidadezinhas que puder. Aliás, Santiago é um capítulo a parte com sua musicalidade à flor das calçadas… Se você achar a livraria das escadinhas, procure uma bandeira do Brasil (pra ver se chegou direitinho, fui eu que mandei). Vou procurar nos meus documentos o email da Clara, ela recebe turistas em casa e pode te dar muitas dicas de outras pessoas que fazem isso nas outras cidades.
maio 31, 2009 às 11:29 pm |
Gracias por las fotos liiiiiiiiiiiidas de mi Cuba