Enfim, ela chegou ao nosso tão sonhado encontro: linda, discreta num sobretudo cinzento, cabelos cuidadosamente tingidos nas cores outonais, um sorriso sóbrio nos lábios. Sentou-se e simultaneamente acolheu-nos em seus braços, com uma simpatia insuspeitada. Tomou um tinto da casa e mostrou suas jóias tão bem polidas. Ofereceu-nos um banquete suculento e divertiu-se com a nossa voracidade, exibindo seus belos dentes amarelados pelas décadas de “Gauloise”. Exibiu também seus dotes mais impressionates, adornados pela luz dourada do sol…foi paixão à primeira vista!
Sim, era ela mesma, Paris, a musa tão aguardada. Finalmente a encontramos no esplendor das folhas douradas e rubras, contrariando todas as previsões com um céu ora azul, ora gris, emoldurando séculos de história e cultura, convidando ao consumismo desenfreado em suas vitrines arrebatadoras e caminhadas exaustivas, seduzindo com seus pratos voluptuosos…poizé, eu voltei de Paris assim: esnobe, afrescalhada e apaixonada; e ainda ganhei Roma de “bônus”.
Eu não tenho a pretensão de “apresentar” a cidade mais visitada do mundo, mas quero compartilhar aqui os ângulos que me arrebatavam a cada esquina: cada caminhada de 500m durava toda uma tarde, pois nós parávamos a cada dez passos para gritar de deslumbramento e bater umas cinco fotos. Será que é só comigo? Veja lá:
Sexta, 02/11 – Chegada à Paris, ao anoitecer, ônibus do CDG direto à Praça de l’Opera…tudo iluminado! Coisa mais linda (quem será que paga a conta de luz da Cidade-Luz?). Pequena caminhada até o Hotel Londres, pertinho do Louvre, do lado da estação de metrô Tuilleries. Fomos recebidas no hotel pelo Rodrigo, um brasileiro estudante de Filosofia da Arte na Sorbonne. Nosso quarto ficava no último andar do hotel, depois de SETE LANCES DE ESCADA. Muito aconchegante (eufemismo para quarto pequeno, mas simpático).
Mesmo assim saímos para jantar no Bistrô Auberge, na rua do hotel, já que o cansaço não permitia grandes deslocamentos. Os próprios donos atendem as mesas e deram ótimas dicas para o jantar.
Sábado, 03/11 – Déjeuner no hotel, cobrado à parte: bem safado pra 8 euros, mas a vista é deliciosa.
Finalmente, prontas pra flanar em Paris, o compromisso mais leve de quem passeia na capital francesa. A primeira obrigação a ser cumprida foi a “peregrinação à Medalha Milagrosa” desculpa perfeita pra esquadrinhar as vitrines maravilhosas da Rue du Bac e coroar a caminhada com um lanchinho na Grande Epicerie de Paris. Nham, obrigada, Majô.
A infantaria segue até a Notre Dame: a primeira fila parisiense (ô gente pra adorar uma fila…). Fiquei imaginando o Quasímodo e a Esmeralda se embrenhando por aquelas portinholas…
Depois de devorar um Menu-Bistrô-turístico no Le Tango du Chat, fomos digerir a bordo do Batobus, que fazia sua última viagem da noite, com ponto final…na Torre Eiffel! Lá estava ela, esplendorosa como uma alegoria de escola de samba, toda exibida, piscando inteirinha (ela faz essa gracinha nas horas cheias) só pra dar as boas vindas pra nós.
Domingo, 04/11 – Depois do cafezinho mixuruca da véspera, fomos tomar café no Hotel Lion D’Or, vizinho de quarteirão, mais substancial e mais baratinho (6 eurinhos), com TV e cyber café anexo. Ficamos amicíssimas da Fati, que adora a Cesária Évora e nos deu um monte de dicas.
(Essa foto foi roubada do Conexão Paris, base para TODOS os nossos roteiros de Paris, criado pela Maria Lina, que como eu já disse no post anterior sabe absolutamente TUDO sobre Paris, e enxerga com olhinhos de brasileira).
No próximo passo nós descobrimos o Carrossel do Louvre, um shopping subterrâneo, na entrada do Museu do Louvre que já vale o passeio, e devido à proximidade do nosso hotel, tornou-se ponto obrigatório nas nossas caminhadas, com restaurantes, livraria, boutiques e lojas de cosméticos deliciosas.
Havia a possibilidade de visitar o Museu gratuitamente, pois era o primeiro domingo do mês, mas as filas inviabilizavam a idéia. Decidimos comprar o Paris Museum Pass para quatro dias e visitar o monstro na quarta feira, quando o horário se estende até as 22:00 hs e tem menos gente pra se acotovelar nos corredores.
Dali marchamos para a Saint Chapelle, que não conseguimos ver na véspera. Foi uma das coisas que mais me impressionou em Paris: os vitrais enormes são impactantes, ainda mais depois de imarginarmos que eles foram retirados durante a guerra e assim foram preservados.
(De tirar o fôlego, né?)
Saímos dali e fomos caminhando pela margem do Rio Sena, que não cansava de fornecer imagens encantadoras pras lentes das maquininhas…
…até descobrirmos o Museu da Idade Média, no Antigo Mosteiro de Cluny, onde viveu o monstrinho do Tio da Heloísa, que causou a separação entre ela e o Abelardo (momento fofoca histórica…). Lá estão também as tapeçarias da Dama e o Unicórnio.
(Foto “emprestada” da wikipedia)