Quando eu contava às pessoas que iria a Bogotá nas férias, todo mundo se arrepiava
– cruzes, você não tem medo da violência? Lá é muito perigoso…
– depois da guerra na esquina da minha casa, perigoso é Copacabana.
Poizé, Bogotá se mostrou assim simpática, esfuziante, movimentada, imersa em suas raízes históricas e fervilhando de modernidade…chévere!
Chévere quer dizer bacana, trilegal, porreta, arretado, da hora, bão-dimais-sô, e se usa todo o tempo para elogiar alguma coisa…chévere.
A Colômbia é um resuminho das Américas para turistas apressados, mas com muito bom gosto; tem uma bagagem histórica considerável, mata amazônica exuberante, praias caribenhas, carnaval, montanhas andinas (nevadas!) e muita cultura própria.
Bogotá fica a 2.700 metros de altitude, e pra quem acabou de subir do fundo do mar (depois eu conto) dá uma zoeira danada. No mesmo dia que chegamos, aproveitamos o começo da noite para subir mais uns 500 metrinhos e ver a cidade lá do alto do cerro Monserrate (u-huh, nem preciso de álcool)
Dali dá pra perceber que Bogotá é muito grande!
Além da visita à igreja, aproveitamos pra jantar por lá mesmo, afinal, é lá que fica um dos restôs mais bacanas da cidade, o Bistrô San Isidro.
Se você quiser pedir alguém em casamento inapelavelmente, tem que ser lá, é i-ne-gá-vel, e o cardápio incentiva: champignons variados com sauce de queijos
Mousse de chocolate branco com frutas amarelas e vermelhas
Tarte Tatin com sorvete de sei-lá-o-que
Bogotá é uma cidade extremamente policiada, demais até. Tenho a sensação de abrir mão da liberdade em troca da segurança, algumas vezes tivemos as bolsas revistadas próximo a lugares estratégicos. Em todos os vôos tivemos as malas verificadas, na ida e na volta, mas sempre fomos muito bem tratadas. Não sei se achei tão ruim…
Escolhemos a Casa Platypus, um albergue melhoradinho, no bairro histórico da Candelária para nos hospedar. Muito simpático, principalmente para caminhar por todo o centro histórico e voltar rapidinho pra casa.
Na mesma praça do hotel está uma das melhores casas de salsa da cidade, o Goce Pagano, onde os estudantes e trabalhadores vão dar seus passinhos na sexta à noite, depois do expediente. Animadíssimo pelos drinkes baratinhos.
Mas a night ferve mesmo é na Zona Rosa, entre as calles 82 e 85, para a jeunesse dorée; e no Parque 93, pra quem assistiu Capitão Asa na infância. Mais de trinta restaurantes na mesma pracinha, para todos os gostos e bolsos. Claro, não podia faltar outra salsateca bombante, a Galeria Café Libro, também para um público mais prateado, se é que você me entende…
Há uma forte recomendação para que não se tome um táxi na rua à noite, ele deve ser pedido ao garçom, ao porteiro ou ao vendedor, que fornece uma senha a ser dada ao motorista.
A maior aventura é se perder pelas calles antigas, numeradas por um sistema curioso, assim: se o endereço é carrera 7 #11-28, isso significa que seu destino é o número 28 da carrera 7, no quarteirão em que cruza com a calle 11. Facinho, né?
Não existem orelhões na cidade, então alguns camelôs “alugam” seus celulares por alguns minutos.
Aliás em termos de aluguel, nunca vi nada mais exótico: um serviço de mariachis 24 hs por dia! Imagina, você pode PRECISAR de um mariachi às 10:30 da manhã e pimba, lá vai o conjuntinho, todo paramentado. Pena que eu não fotografei a reunião deles.
Antes de sair para nosso lerê cultural no centrinho, trocamos dinheiro no Emerald Trade Center, bem pertinho da Praça Las Águas (a do hotel), cercado de seguranças, com uma cotação melhor que em qualquer lugar do país.
Bogotá é um museu a céu aberto. Tem uma penca de igrejas barrocas forradas de ouro, que não se pode fotografar. Inclusive a de San Francisco que na minha hagiologia era um santo alérgico a ouro (!).
Minha meta em Bogotá era visitar o Museo Botero, de quem sou fã incondicional. Acho que seria o único capaz de me fazer um retrato fiel 😳 e bonitinho. Brincadeiras à parte, ele tem um cunho sócio político muito forte, e curiosamente seu museu está instalado dentro da Casa de la Moneda.
Na mesma caminhada, me apaixonei pela Igreja de Santa Clara, que virou um museu e pode ser fotografado à vontade. Lá estava em exposição o trabalho de uma fotógrafa impressionante, a Adriana Duque, com fotos em tamanho gigantesco de crianças que pareciam perfeitamente integradas ao convento medieval.
Mas o grande hit de Bogotá é o Museo del Oro, recém reformado, moderníssimo, muito bem montado, com áreas educativas e peças liiiindas (ai, vontade de COMPRAR o museu…)
Além das exposições muito bem explicadas, entramos na sala dos xamãs, que reproduziam os antigos cantos rituais (arrepiante) num cenário de ouro.
Fico imaginando a quantidade de ouro que saiu daqui, pra ter sobrado tanto 🙄
Depois de tanto andar, hay que se entregar aos prazeres da mesa. Na calle 11#6 tem um grupo de restaurantes antigos, simplesinhos, mas com comidas típicas, apreciadas pelos bogotanos (não para turistas apenas)
Escolhemos o tamal, na folha de bananeira, e o ajiaco, uma sopinha levanta defunto. De sobremesa, muitos docinhos à base de doce de leite, que para eles é arequipe.
Depois de muchas compritas no mercado de artesanias (a Colômbia é uma das maiores produtoras mundiais de esmeralda), encerramos o lerê histórico.
O passeio mais interessante bate e volta de Bogotá é a Catedral de Sal, a uma hora de distância do centro. Para chegar lá, basta tomar o Transmilênio, (um metrô de superfície que atravessa a cidade) até a estação Portal del Norte, e de lá se meter no micro ônibus (buseta, oh constrangimento) que vai para Zipaquirá. É como se fosse um subúrbio de Bogotá, mas é outra municipalidade, tem sua própria igreja e Plaza de Armas.
A catedral fica dentro de uma mina de sal, ainda ativa, mas em outro nível.
Quando esse “andar” foi desativado, construiram a catedral 180 metros abaixo do cume da montanha. A obra impressiona pelas dimensões
Deve ser bacana assistir a um espetáculo de música lá embaixo, mas enquanto catedral, deixou um pouquinho a desejar…
Todomundo recomendou a parrilha (churrasco) do Andrés Carne de Res, mas estávamos desmaiando de fome e comemos lá pelo Parque de la Sal mesmo (ai, se arrependimento matasse…).
Se seus olhos ainda tiverem curiosidade (e paciência) tem mais Bogotá aqui.